Uso de biológicos no tratamento de sementes: finalidades e aplicações
- 08/05/2024
O tratamento de sementes é um mercado em crescimento contínuo, tendo em vista o grande número de patógenos necrotróficos que atingem as grandes culturas. No panorama atual, onde há um sistema intensivo de monocultivo, não há quebra do ciclo vicioso de sobrevivência dos patógenos, sendo que, na medida em que não existe um controle satisfatório destes fungos nas sementes, as doenças serão transmitidas para a parte aérea, aumentando consequentemente a sua severidade.
Além do problema sanitário, é possível destacar a importância do TS para condições adversas de semeadura onde ocorre déficit hídrico, solos com baixa temperatura e alto teor de umidade, solo compactado, semeadura profunda, histórico de tombamento e cultivos em áreas novas. Além das ferramentas químicas, ganha cada vez mais importância a utilização de produtos biológicos para o tratamento de sementes, sendo para isso, utilizados agente de controle que contém tanto fungos quanto bactérias.
O tratamento de sementes é uma importante estratégia de proteção nas fases de germinação e de plântula garantem o estabelecimento uniforme das populações de plantas na lavoura.
Produtos aplicados às sementes
Embora inicialmente, os produtos adicionados às sementes possuíam unicamente o objetivo de conferir algum tipo de proteção, como fungicidas e inseticidas, atualmente, muitos outros são utilizados de forma isolada ou associados. Para efeito de caracterização, os produtos aplicados às sementes serão classificados como fitossanitários, fertilizantes, bioestimulantes, biorreguladores, inoculantes e outros.
O tratamento biológico de sementes, também descrito como micobiolização, refere-se à aplicação de microrganismos vivos nas sementes para o controle de doenças, pragas, fitonematoides, e pode, em alguns casos, promover o crescimento de plantas.
Segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), o mercado de produtos biológicos no Brasil vem crescendo mais de 30% ao ano com a comercialização de bionematicidas, biofungicidas, bioinseticidas, bioherbicidas, biofertilizantes e bioestimulantes.
Dentre os produtos biológicos registrados no MAPA, cerca de 20% são recomendados para o tratamento de sementes, visando uma melhor qualidade e estabelecimento inicial das culturas, proteção das sementes contra fungos e pragas de solo e condições climáticas adversas. Os microrganismos são os ingredientes ativos da maioria desses bioinsumos. Fungos do gênero Trichoderma e as bactérias do gênero Bacillus são os mais utilizados, além das bactérias que são base para os inoculantes destinados para fixação de nitrogênio (Azospirillum e os rizóbios).
Produtos fitossanitários
Os produtos fitossanitários representam a maior quantidade das substâncias aplicadas às sementes, uma vez que, provavelmente, seja a forma mais consolidada para o controle de doenças transmitidas por elas, especialmente daquelas causadas por fungos.
No entanto, o tratamento das sementes não deve ser utilizado como medida isolada para o controle de doenças e ou pragas iniciais nos cultivos (Lucca Filho; Farias, 2019; Menten, 1991). Mas sim como parte de um conjunto de medidas que incluem outras práticas culturais como rotação de culturas, utilização de cultivares tolerantes ou resistentes, tratamento vegetativo, entre outras.
A eficiência do tratamento de sementes visando o controle de doenças, está relacionada com a erradicação do patógeno ou na capacidade protetiva conferida pelo produto. Para que esta eficiência seja alcançada, é necessária a utilização adequada do princípio ativo ou agente biológico e da sua dose/ concentração, bem como da correta cobertura do produto nas sementes, no caso de químicos, ou a fixação do agente biológico, em função da forma do tratamento empregada.
Nutrientes
As sementes também podem ser usadas como veículo para a fertilização do cultivo. Entretanto, apesar da pequena quantidade possível de ser adicionada a elas, é um facilitador para que micronutrientes sejam aplicados e utilizados pela cultura. À semelhança dos produtos fitossanitários, os micronutrientes aplicados nas sementes, também necessitam dissolver-se na solução do solo, para que posteriormente sejam absorvidos pelas radículas nos instantes posteriores à germinação e emergência das plântulas de soja.
Na cultura da soja o uso dos micronutrientes cobalto e molibdênio, no tratamento de sementes ou sulco de semeadura, é prática corriqueira, com efeitos já elucidados pela pesquisa. Ainda nesta cultura, os micronutrientes, são recomendados em associação com inoculantes, sendo cofatores enzimáticos imprescindíveis para eficiência das espécies de Bradyrhizobium
Bioestimulantes e biorreguladores
Juntamente com a intensificação dos produtos de origem biológica para controle principalmente das doenças, aplicados às sementes, surgiram também os produtos denominados de bioestimulantes e biorreguladores.
A fisiologia vegetal aponta que muitas substâncias de origem orgânica (produzidas pela própria planta), são reguladores de crescimento, como por exemplo os fitohormônios. Surgiu desta forma o conceito dos biorreguladores, que são compostos orgânicos, não nutrientes e que uma vez aplicados às sementes ou à própria planta, em baixas concentrações, podem promover inibir ou modificar processos de crescimento vegetal. Dentre tais substâncias podem ser citadas as citocininas, as giberelinas, as auxinas, bem como os retardadores, os inibidores e o etileno (Morzelle et al., 2017).
Caracterizam-se substâncias bioestimulantes como sendo misturas de um ou mais biorreguladores com outros compostos de natureza química diferente como os aminoácidos, as vitaminas e os sais minerais principalmente. Embora existam produtos comerciais assim classificados à disposição do agricultor para aplicação nas sementes, os resultados da pesquisa não são todos concordantes para os principais cultivos e situações de ambientes. Ainda podem ser considerados neste grupo de produtos aplicados via tratamento de sementes, os microrganismos ou os metabólitos produzidos por microrganismos, com finalidade específica de proporcionar estímulos aos processos germinativos, a promover o crescimento e a minimizar os danos causados por estresses abióticos (Silva et al., 2020).
Inoculantes
Aqui no Brasil, seu uso começou a ficar conhecido na cultura da soja a partir dos anos 1950, com cepas de bactérias pertencentes ao gênero Bradyrhizobium. Esta técnica ficou consagrada na sojicultura nacional, sendo hoje um insumo de reconhecida importância para a cultura.
Existem variações de formulações inoculantes comerciais para serem aplicados via sementes ou sulco de semeadura, que vão desde pó, turfoso, gel e líquido, constituído por espécies, cepas, combinações de microrganismos e concentração distintas, visando atender a realidade do agricultor.
Não somente as sementes da cultura da soja ou das leguminosas, podem ser inoculadas, mas também de outras espécies, como por exemplo gramíneas como milho, arroz, braquiária e trigo, nas quais podem ser utilizadas cepas da bactéria Azospirillum.
Tem sido recomendado também, a técnica da coinoculação, por proporcionar vários benefícios para as plantas pela ação conjunta de dois ou mais microrganismos (Hungria et al., 2015). Dentre os benefícios da coinoculação, verifica-se aumento da área radicular, gerando maior aproveitamento dos fertilizantes, favorecendo a planta em situações de estresse hídrico e incremento da produtividade pela maior capacidade de absorção de nutrientes e água pelas raízes (Hungria, 2011).
Formas de aplicação dos produtos às sementes.
De maneira geral, os diferentes produtos que atualmente estão no mercado, para serem usados na agricultura conjuntamente com as sementes, podem ser aplicados diretamente sobre estas, ou ainda, via sulco de semeadura, durante a realização do plantio. Técnica esta inclusive, muito adotada e recomendada na cultura da soja.
Aplicação diretamente sobre as sementes
Na aplicação diretamente sobre as sementes, têm-se o tratamento propriamente dito, com as diferentes formulações físicas dos produtos
Aplicação na forma de pulverização
É a forma de aplicação comumente utilizada no tratamento de grandes volumes de sementes pelas máquinas tratadoras industriais. Esta operação é realizada em equipamentos próprios para este fim, que possuem a capacidade de pulverizar a calda do produto (ou mistura de produtos), depositando-a sobre as sementes na forma de pequenas ou minúsculas gotas.
As sementes são imediatamente misturadas, por meio de dispositivo apropriado que realiza uma homogeneização a fim de proporcionar distribuição e cobertura uniforme do produto sobre o tegumento
Aplicação na forma de peletização
Em si, a peletização de sementes não é um tratamento, pois trata-se da aplicação de substâncias inertes às sementes que lhes conferem aumento de tamanho e padronização, por exemplo, formando um pellet. Com sementes de espécies olerícolas, ornamentais ou forrageiras, juntamente com as substâncias adesivas (goma arábica ou acetato de celulose) e inertes (talco ou pó de rocha), podem ser aplicados produtos fitossanitários de origem química ou biológica, bem como, micronutrientes.
Aplicação no sulco de semeadura
É uma forma de aplicação do(s) produto(s) no momento da semeadura e que não somente as sementes recebem o(s) ativo(s), bem como uma estreita faixa de solo.
Classificação dos tratamentos
A aplicação dos produtos nas sementes antes da semeadura, pode ser classificada de acordo com o local onde a operação ocorre. O tratamento pode ser realizado ainda na unidade de beneficiamento de sementes (UBS), ou após este, já nas revendas de insumos ou cooperativas, bem como também, na propriedade do agricultor.
Conclusão
Fatores como a qualidade das sementes, os produtos e suas formulações, o preparo da calda e suas associações, forma de tratamento e equipamentos utilizados são aspectos importantes a serem considerados e que, influenciam na qualidade final do trabalho realizado. O tratamento das sementes é um fator determinante para a manutenção da população de plantas no campo. Por outro lado, é importante ressaltar que deve verificar a alta qualidade do lote de sementes, sobretudo a qualidade fisiológica. Pois o tratamento por si só, não melhora os atributos de (vigor e germinação) de um lote de sementes