Uso de biológicos no controle de doenças agrícolas e a importância de compreender os mecanismos de ação
- 09/10/2024
Manejo de doenças
O manejo de doenças em plantas depende de sua correta identificação, do entendimento de seu ciclo e do conhecimento das formas de manejo disponíveis. O manejo de doenças pode ser realizada com o uso de controle genético, químico, cultural e biológico (LAU et al., 2011).
O controle biológico é uma ferramenta interessante no manejo de doenças de plantas, contribuindo para o manejo da resistência aos fungicidas químicos. O controle biológico caracteriza-se por ter múltiplos alvos biológicos, além de diferentes modos de ação, por isso, quando usado corretamente no manejo integrado de doenças de plantas exerce papel protetor análogo aos fungicidas químicos multissítios, minimizando o surgimento de isolados sensíveis a determinado princípio ativo (KUPPER; GIMENES-FERNANDES; GOES, 2003; ONGENA et al., 2005).
Nos últimos anos, o uso de biológicos no controle de doenças agrícolas vem ganhando força como uma estratégia sustentável e eficaz no manejo de fitopatógenos. Os biológicos são produtos à base de organismos vivos, como fungos, bactérias, vírus, ou seus derivados, que atuam no controle de pragas e doenças nas plantas. Além de serem uma alternativa viável para a agricultura convencional, eles estão alinhados com práticas de manejo integrado de pragas (MIP), agricultura regenerativa e sistemas de produção orgânicos. No entanto, para maximizar o potencial desses insumos, é fundamental que os agrônomos e produtores compreendam seus mecanismos de ação e como integrá-los corretamente nos sistemas de manejo.
Mercado de biológicos
Mercado de bioinsumos cresceu 15% na safra 2023/2024
A Indústria de produtos biológicos agrícolas comercializou R$5 bilhões na última safra. Setor no Brasil registrou taxa média anual de crescimento de 21% nos últimos três anos, percentual quatro vezes acima da global
Mercado global
O mercado global de bioinsumos agrícolas em 2023 foi avaliado entre US$ 13 e 15 bilhões, incluindo todos os segmentos: controle, inoculantes, bioestimulantes e solubilizadores.
A estimativa é que a taxa anual de crescimento global até 2032 seja entre 13% e 14%, o que corresponde a US$ 45 bilhões, valor três vezes maior que o atual.
O segmento mais representativo entre os bioinsumos são os produtos de controle biológico, estimados em 57% do valor acima. A previsão é que eles devem continuar como representantes da maior fatia desse mercado.
O papel dos biológicos no controle de doenças
Os produtos biológicos agem no controle de patógenos vegetais de diferentes maneiras, dependendo do agente biológico utilizado e do tipo de doença que se busca manejar. Os principais grupos de agentes biológicos para controle de doenças incluem:
Fungos antagonistas: Fungos como Trichoderma spp. e Gliocladium spp. são amplamente utilizados no controle de doenças de solo e de parte aérea. Eles competem com os patógenos pelos mesmos recursos ou produzem metabólitos que inibem o crescimento dos patógenos. Também podem parasitar diretamente outros fungos patogênicos, como Fusarium, Sclerotinia, e Rhizoctonia.
Bactérias benéficas: Bactérias do gênero Bacillus, Pseudomonas, e Streptomyces são exemplos de organismos que promovem o controle de doenças por meio da produção de antibióticos naturais, competindo por espaço e nutrientes, e induzindo resistência sistêmica na planta hospedeira. Por exemplo, Bacillus subtilis é um biocontrole eficaz contra doenças de solo e doenças foliares, como mancha bacteriana e podridão radicular.
Vírus entomopatogênicos: Esses são usados para o controle biológico de insetos vetores que transmitem patógenos às plantas. Um exemplo é o vírus da granulose, que afeta insetos lepidópteros, reduzindo a população de vetores que podem propagar doenças virais em culturas como tomate e pimentão.
Mecanismos de ação dos biológicos
A eficácia dos produtos biológicos no controle de doenças depende de diversos mecanismos de ação que podem atuar individualmente ou de forma combinada. Os principais mecanismos de ação incluem:
- Competição
- Antibiose
- Parasitismo
- Indução de resistência sistêmica
Vantagens do uso de biológicos
O uso de biológicos no manejo de doenças oferece várias vantagens em relação ao uso de produtos químicos tradicionais, incluindo:
Sustentabilidade ambiental: Biológicos são mais amigáveis ao meio ambiente, não acumulam resíduos tóxicos no solo e não contaminam corpos d’água.
Redução da resistência de patógenos: O uso contínuo de fungicidas químicos tem levado ao desenvolvimento de resistência em patógenos. O uso de biológicos, com diferentes modos de ação, pode retardar ou evitar o desenvolvimento dessa resistência.
Compatibilidade com o MIP: Os biológicos podem ser integrados a outros métodos de controle, como o controle químico e cultural, dentro de um programa de manejo integrado de doenças (MID), oferecendo maior flexibilidade e segurança ao produtor.
Baixa toxicidade: A maior parte dos biológicos não apresenta toxicidade significativa para humanos e animais, sendo uma opção mais segura para os trabalhadores rurais e consumidores finais.
Desafios e considerações no uso de biológicos
Apesar das muitas vantagens, o uso de biológicos apresenta desafios. A eficácia desses produtos depende de fatores ambientais, como umidade, temperatura e manejo correto da aplicação. Além disso, a compreensão profunda dos mecanismos de ação de cada produto é essencial para sua eficácia.
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