Controle biológico de doenças: entenda como ele é realizado
- 13/05/2024
Um dos grandes entraves presentes nos cultivos agrícolas anuais são as doenças causadas principalmente por patógenos habitantes de solo, como os nematoides e os fungos causadores de podridões radiculares. As perdas em produtividade resultantes da infecção por doenças fúngicas radiculares podem variar muito de ano para ano e em um mesmo campo, em áreas onde a pressão de inóculo é maior que em outras.
Condições ideais para o desenvolvimento de doenças
Em ambientes tropicais, os danos econômicos com doenças radiculares são mais acentuados do que em ambientes temperados. Visto que as condições ambientais favorecem o cultivo continuado de plantas hospedeiras no sistema de produção, além das menores flutuações climáticas, o que causa pouco impacto na população exponencial dos causadores de doenças. Não podemos nos esquecer dos solos com baixo teor de matéria orgânica e baixa diversidade biológica, que facilitam o desenvolvimento de patógenos radiculares e as doenças por eles causadas (Michereff et al., 2005).
O triângulo da doença:
O triângulo da doença é uma representação clássica na fitopatologia que ilustra os três componentes essenciais para o desenvolvimento de uma doença em plantas. Esses elementos são o hospedeiro, o patógeno e o ambiente. A interação dinâmica entre esses fatores determina a suscetibilidade do hospedeiro à infecção e a severidade da doença resultante.
Os fungos causadores de podridões radiculares da soja:
Quando se fala em fungos habitantes do solo, há aqueles nativos do solo, que estavam presentes mesmo antes da introdução da planta cultivada, aqueles introduzidos pelo maquinário e aqueles introduzidos por sementes. Independente da origem do fitopatógeno, sua prevalência e os danos ao cultivo vão estar diretamente relacionados a sua população e às condições favoráveis.
Em sua grande maioria esses patógenos causam doenças monocíclicas, ou seja, seu inóculo aumenta ao longo dos ciclos de cultivos sucessivos com plantas suscetíveis e as reduções em produtividade são graduais e, assim, passam muitas vezes despercebidas nos primeiros anos de infestação.
Portanto, o primeiro passo para o manejo de doenças fúngicas radiculares é a determinação de que fungo fitopatogênico está presente e quais os prejuízos que estão sendo causados.
Considerando que muitos dos patógenos radiculares infectam as plantas desde o momento da embebição (Nelson, 2004), o tratamento de sementes com fungicida químico tem sido postulado como a estratégia mais eficiente para o manejo dessas doenças.
Vale ressaltar, ainda, que todos são espécies que passam a maior parte do seu ciclo de vida no solo, infectam raízes e possuem capacidade de sobrevivência saprofítica, mesmo na ausência da planta hospedeira, obtendo seus nutrientes a partir de tecidos mortos e/ou em decomposição (Hillocks; Waller, 1997).
Agentes de biocontrole
Apesar de vários grupos apresentarem atividades antagônicas como vírus, protozoários e nematoides de vida livre, a maioria dos estudos ainda leva em consideração poucos grupos de microrganismos como antagonistas de patógenos de plantas (MEDEIROS et al., 2018). A maioria dos produtos comerciais registrados em todo mundo apresentam fungos e bactérias como agente de controle de doença de plantas.
Os agentes de biocontrole são microrganismos antagonistas com potencial de interferir na sobrevivência ou crescimento dos patógenos. Os principais microrganismos para o controle biológico de doenças são os fungos e as bactérias. Os mecanismos de interações antagônicas são divididos em antibiose, indução de resistência, parasitismo, predação, competição e promoção de crescimento.
Utilização de fungos no controle de doenças
Os fungos classificados nessa dimensão, tem como seu principal representante o grupo dos ascomicetos, que podem controlar outros fungos, bactérias e nematoides. Dentre os mais estudados, está o gênero Trichoderma, que são fungos habitantes de solo que apresentam diversos mecanismos de controle, principalmente contra patógenos radiculares, além do efeito de promoção de crescimento. Diversas espécies são estudadas para o controle de fungos radiculares, como Trichoderma harzianum, Trichoderma asperellum, Trichoderma virens, Trichoderma viride, entre outros. Os principais alvos são os fungos causadores de podridão de raízes, de tombamento de plantas (damping-off) e podridão de haste. Logo, os gêneros de Macrophomina, Fusarium e Rhizoctonia são controlados por espécies de Trichoderma. No entanto, um dos principais exemplos de sucesso na soja, é o controle biológico do mofo-branco, causado por Sclerotinia sclerotiorum, patógeno de difícil controle devido sua capacidade de formar escleródios e por possuir uma ampla gama de hospedeiros. Assim, um dos principais mecanismos de ação do Trichoderma é o parasitismo do escleródio, que inviabiliza ou reduz a germinação carpogênica e miceliogênica e afeta drasticamente o potencial do inóculo.
Uso de bactérias para o controle biológico de doenças
Já para as bactérias, os principais gêneros que atuam como antagonistas são Bacillus, Pseudomonas, Pasteuria e Rhizobium. Para o controle de doenças radiculares o Bacillus representa o gênero mais estudado e aplicado. Com diversos mecanismos de ação e facilidade de produção, se tornou o principal ativo biológico dos produtos registrados para uso comercial no Brasil.
Mecanismo de ação das bactérias
Bactérias Promotoras de Crescimento (BPC) desempenham um papel crucial na proteção de diversas culturas, contra uma variedade de doenças, incluindo infecções causadas por vírus, fungos, bactérias, nematoides e deficiências nutricionais. O controle desses patógenos por BPC pode ocorrer através de diferentes mecanismos, que geralmente se enquadram em dois tipos principais: direto e indireto (Glick, 1995; Gupta et al., 2015).
Os mecanismos de efeito direto sobre os patógenos vegetais incluem a produção de antibióticos. Por outro lado, o efeito indireto inclui indução de resistência e promoção de crescimento (Glick, 1995)
A produção de antibióticos é outro mecanismo comum pelo qual as bactérias promotoras de crescimento realizam o processo de antagonismo contra os fitopatógenos (Gómez-Exposito et al., 2017). Esses antibióticos são compostos orgânicos de baixo peso molecular que matam ou reduzem o impacto dos patógenos radiculares
Importância da utilização dos bioinsumos:
A introdução dos bioinsumos à base de agentes de biocontrole podem auxiliar na formação de solos supressivos, solos que inviabilizam o estabelecimento de fitopatógenos que podem causar danos a nível econômico. Diversos mecanismos de ação dos microrganismos estão envolvidos na supressão de patógenos nos solos supressivos, entre eles: parasitismo, competição por sítio de infecção e por nutrientes, produção de metabólitos secundários e indução de resistência sistêmica.
Formas de aplicação disponíveis
A oportunidade para a utilização em larga escala dos bioinsumos está no uso combinado com práticas agronômicas já estabelecidas nas lavouras, como no tratamento de sementes, no sulco de semeadura e/ ou na aplicação em conjunto com fungicidas e/ou herbicidas desde que se atente para a compatibilidade.
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