Premissas básicas do controle biológico na agricultura: entenda como funciona
- 01/05/2024
A premissa básica do controle biológico é controlar as pragas agrícolas e os insetos transmissores de doenças a partir do uso de seus inimigos naturais, que podem ser outros insetos benéficos, predadores, parasitóides, e microrganismos, como fungos, vírus e bactérias.
O que é considerado praga?
Em Entomologia, inseto-praga é aquele que causa dano econômico às áreas agrícolas, florestais, agropecuárias e urbanas, podendo ser vetor de doenças de plantas e animais sendo neste caso estudado em Entomologia Veterinária e Entomologia Médica respectivamente.
O controle biológico pode ser interpretado de três formas:
(1) como um campo de estudos em diferentes áreas, tais como ecologia de populações, biosistemática, comportamento, fisiologia e genética;
(2) como um fenômeno natural: quase todas as espécies têm inimigos naturais que regulam suas populações e
(3) como uma estratégia de controle de pragas através da utilização de parasitóides, predadores e patógenos
Tipos de organismos utilizados para o controle biológico:
Insetos Entomófagos: são insetos que se alimentam de outros insetos. Neste grupo estão os insetos predadores, que matam e consomem suas presas e os insetos parasitóides, que põem os seus ovos no corpo do inseto hospedeiro e suas larvas passam a se alimentar dele levando-o a morte
Parasitóides – dentro da entomologia considera-se o termo parasitóide, ao inseto que parasita um hospedeiro, completa o seu ciclo em um único hospedeiro e usualmente mata esse hospedeiro. Suas larvas exibem o hábito parasítico, e os adultos são de vida livre, se alimentando de néctar, substâncias açucaradas etc
Predadores – são indivíduos de vida livre, usualmente maior do que as presas
requerem um grande número de presas para completar o seu ciclo de vida, e podem
apresentar o comportamento predatório, tanto no estágio ninfal (larval) como no adulto. Quanto ao hábito alimentar podem ser mastigadores e sugadores.
Entomopatógenos: diversos organismos causam doença nos insetos (pragas), incapacitando-os ou levando-os à morte. Como agentes causadores de doenças (patógenos) de insetos temos: fungos, bactérias, vírus, protozoários e nematoides
Tipos de controle biológico
Do ponto de vista agrícola, podemos enfocar o controle biológico de duas formas: o controle biológico natural e o controle biológico aplicado.
Controle biológico clássico:
- Definição: O controle biológico clássico envolve a introdução deliberada de um agente de controle, como um predador, parasitoide ou patógeno, em uma área onde a praga alvo está causando danos.
- Processo: O agente de controle biológico é frequentemente proveniente da região nativa da praga e é introduzido em uma nova área onde a praga foi introduzida e não possui seus inimigos naturais. O objetivo é estabelecer uma população do agente de controle que possa regular naturalmente a população da praga ao longo do tempo.
- Exemplo: Um exemplo clássico é a introdução da joaninha (Coccinellidae) para controlar populações de pulgões em culturas.
Controle biológico natural:
- Definição: O controle biológico natural envolve o uso de organismos que já estão presentes no ambiente para controlar pragas.
- Processo: Nesse método, não há necessidade de introduzir novos agentes de controle. Em vez disso, busca-se promover e manter populações de inimigos naturais da praga, como predadores, parasitoides e patógenos, através de práticas de manejo que favorecem seu estabelecimento e sobrevivência.
- Exemplo: Encorajar a presença de aranhas predadoras em um campo agrícola para controlar populações de insetos-praga.
Controle biológico aplicado:
- Definição: O controle biológico aplicado refere-se ao uso deliberado de organismos ou produtos biológicos para controlar pragas ou doenças específicas em uma área agrícola.
- Processo: Esse método pode incluir a aplicação de produtos biológicos, como agentes microbianos (por exemplo, fungos entomopatogênicos) ou extratos de plantas com propriedades inseticidas, para controlar pragas. Também pode envolver o estabelecimento de habitats ou a introdução de inimigos naturais em uma área específica para controlar uma praga.
- Exemplo: A aplicação de Bacillus thuringiensis (Bt), uma bactéria que produz toxinas letais para insetos, para controlar larvas de mariposas em plantações de milho.
Programa de controle biológico
Um programa de controle biológico deve ser bem planejado, e várias etapas devem compor este programa, de acordo com van Lenteren (2000) e Parra et.al. (2002):
- Conhecimento taxonômico da praga-alvo, sua região de origem.
- Informações coletadas, através de pesquisa na literatura, sobre a biologia,
comportamento da praga, e outras que auxiliem no processo de controle da mesma.
- Inventário dos inimigos naturais.
- Seleção dos inimigos naturais mais promissores. Estudos mais detalhados sobre biologia, comportamento etc.
- Criação massal do inimigo natural selecionado. Técnicas para criação massal.
Controle de qualidade
- Liberação do inimigo natural
- Avaliação final da efetividade biológica e econômica
Além dessas etapas do programa de controle biológico, é fundamental que haja certa lógica para que ele atinja o usuário, e segundo Parra (1993), as etapas, para tal lógica, seriam as seguintes:
(a) seleção da (s) cultura (s) e do (s) inimigo (s) natural (is);
(b) criação de pequeno porte do hospedeiro/presa para desenvolvimento de pesquisa básica;
(c) desenvolvimento de um sistema de criação massal;
(d) avaliação do custo/benefício e transferência da tecnologia ao usuário.
No Brasil, vários programas de controle biológico com entomófagos têm sido conduzidos e aplicados.
Vantagens do controle biológico
Sustentabilidade ambiental: Uma das maiores vantagens do controle biológico é sua natureza sustentável. Em comparação com os pesticidas químicos tradicionais, o controle biológico geralmente causa menos danos ao meio ambiente. Isso se deve ao fato de que os agentes de controle biológico são organismos vivos ou produtos derivados de organismos vivos, que tendem a ter efeitos menos prejudiciais sobre a biodiversidade, os ecossistemas e a qualidade da água e do solo.
Redução do uso de pesticidas químicos: Ao incorporar o controle biológico em programas de manejo integrado de pragas (MIP), os agricultores podem reduzir a dependência de pesticidas químicos sintéticos. Isso não apenas diminui os riscos associados à exposição humana e à contaminação ambiental, mas também ajuda a prevenir o desenvolvimento de resistência em populações de pragas, que é um problema comum com o uso excessivo de pesticidas.
Eficiência a longo prazo: Enquanto os pesticidas químicos podem fornecer soluções imediatas para problemas de pragas, o controle biológico muitas vezes oferece benefícios a longo prazo. Uma vez estabelecidos, os agentes de controle biológico, como predadores, parasitoides e patógenos, podem ajudar a manter as populações de pragas sob controle de forma sustentável ao longo de várias safras.
Preservação da biodiversidade: O controle biológico pode contribuir para a preservação da biodiversidade, uma vez que promove o equilíbrio ecológico ao permitir a manutenção de populações de organismos benéficos, como predadores e parasitoides, que desempenham papéis importantes nos ecossistemas agrícolas.
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Conclusão:
O Controle Biológico, como base de sustentação do Manejo Integrado de Pragas (MIP) e como uma medida de controle, isolada ou associada com outros métodos, visa a produtividade harmônica nos agroecossistemas, cujo objetivo final do homem é a obtenção de um produto saudável e economicamente viável
Referências:
PARRA, J. R. P.; BOTELHO, P. S. M.; CORREA-FERREIRA, B. S.; BENTO, J. M. S.
- Controle biológico no Brasil: parasitóides e predadores. Editora Manole, São
Paulo. 609p.
VAN LENTEREN, J.C. 2000. Success in biological control of arthropods by
augmentation of natural enemies. p. 77-103. In: GURR, G.; WRATTEN, S. (eds.), Biological control: measures of success. Kluver Academic Publishers, The Netherlands. 429p.