Resistência de plantas daninhas: Entenda como ocorre, tipos de resistência e como evitar
- 02/10/2024
O manejo de plantas daninhas tem se tornado cada vez mais desafiador no campo, principalmente devido ao surgimento de plantas daninhas resistentes, com novos casos surgindo a cada ano, enquanto pouquíssimos herbicidas novos chegam ao mercado.
A resistência de plantas daninhas a herbicidas é um dos grandes desafios da agricultura no momento, tanto no Brasil como nos outros países. Mas, primeiramente, é importante diferenciar tolerância de resistência de plantas daninhas, que é muito confundido no campo.
A tolerância refere-se à característica inata da espécie em sobreviver a aplicações de herbicida na dosagem recomendada, que seria letal a outras espécies, sem alterações marcantes em seu crescimento e desenvolvimento (CHRISTOFFOLETI & LÓPEZ-OVEJERO, 2008).
Em relação à resistência, trata-se da capacidade inerente e herdável de alguns biótipos, dentro de uma determinada população, de sobreviver e se reproduzir após a exposição a dosagens de um herbicida, que normalmente seriam letais a uma população normal (sensível) da mesma espécie (CHRISTOFFOLETI & LÓPEZ-OVEJERO, 2008).
A resistência é um fenômeno natural que ocorre espontaneamente nas populações, não sendo, portanto, o herbicida o agente causador, mas, sim, selecionador dos indivíduos resistentes que se encontram em baixa frequência inicial (CHRISTOFFOLETI et al., 1994).
A resistência é resultado de uma pressão de seleção, devido ao uso contínuo e frequente de herbicidas com o mesmo mecanismo de ação, sem a adoção de outras práticas de manejo de plantas daninhas (NORSWORTHY et al., 2012).
Resistência de plantas daninhas a herbicidas
A ampla variabilidade genética é uma das principais características das plantas daninhas, o que permite a adaptação e a sobrevivência dessas espécies em diversas condições ambientais. Com a utilização intensiva de herbicidas nas últimas décadas, algumas populações de plantas daninhas foram selecionadas em resposta ao distúrbio ambiental provocado pela pressão de seleção dos herbicidas, resultando na seleção de biótipos resistentes. Essa seleção de biótipos resistentes tem ocorrido em todas as classes de herbicidas, embora alguns mecanismos de ação tenham favorecido a seleção de biótipos resistentes com mais frequência do que outros.
Os herbicidas inibidores da ALS (sulfonilureias e imidazolinonas), por exemplo, têm centenas de relatos de seleção de biótipos resistentes em todo o mundo. Já o glyphosate e os herbicidas inibidores de PROTOX, apesar de amplamente utilizados na agricultura, possuem poucos relatos de resistência em âmbito global (Christoffoleti & colaboradores).
Tipos de resistência
A resistência simples ocorre quando o biótipo é resistente a apenas um mecanismo de ação e pode ser cruzada, quando o biótipo é resistente a dois ou mais herbicidas de diferentes grupos químicos do mesmo mecanismo de ação (CHRISTOFFOLETI & LÓPEZ-OVEJERO, 2008).
Na resistência múltipla o biótipo possui um ou mais mecanismos de resistência distintos, que conferem o comportamento resistente a herbicidas com mecanismos de ação diferenciados (CHRISTOFFOLETI & LÓPEZ-OVEJERO, 2008).
Casos de resistência de plantas daninhas
Com base nos dados disponibilizados no site do IHRWD, até o ano de 2022, 512 casos de biótipos de plantas daninhas resistentes a herbicidas já foram registrados no mundo, para 266 espécies (153 dicotiledôneas e 113 monocotiledôneas), distribuídos em 96 culturas em 71 países (HEAP, 2022).
No Brasil, 54 casos de resistência foram relatados até o momento, para 29 espécies de plantas daninhas, especialmente nas culturas de soja, milho, algodão e trigo, destas 15 são dicotiledôneas e 14 monocotiledôneas (HEAP, 2022).
Entre as 22 espécies ranqueadas, o azevém (Lolium perenne ssp. multiflorum) possui o maior número de casos, 71; seguido de caruru palmeri (Amaranthus palmeri), com 70, e buva (Conyza canadensis), com 66. Das 22 espécies listadas, somente para dez já foram registrados casos de resistência no Brasil, com predomínio de buva (Conyza sumatrensis), com 7 casos; e azevém, com 5 casos.
Mecanismos de resistência
Os mecanismos de resistência de plantas daninhas a herbicidas podem ser separados em dois grupos: mecanismos de resistência relacionados ao sítio de ação, também denominado de específico, em inglês Target-site resistance (TSR) e mecanismos de resistência não relacionados ao sítio de ação, ou não específicos, em inglês Nontarget-site resistance (NTSR) (GAINES et al., 2020).
O conhecimento dos mecanismos de resistência contribui para melhorar o manejo das populações resistentes (TAKANO et al., 2021). É importante destacar que as plantas daninhas podem desenvolver resistência para qualquer método de controle, desde que usado em excesso, mesmo aqueles não químicos.
Para os mecanismos de resistência relacionados ao sítio de ação (Target-site resistance), a atividade do herbicida é comprometida no seu sítio de ação, por diversas causas ou fatores, como a perda da afinidade da molécula pelo local de ação na enzima, atribuída a mudanças na sequência dos aminoácidos em uma região conservada da enzima; aumento da expressão gênica, polimorfismos múltiplos de nucleotídeos, interações receptor/co-receptor, entre outros (GAINES et al., 2020).
Manejo da resistência
O manejo da resistência deve ser adotado nas áreas agrícolas antes da instalação do problema no campo, como estratégia proativa para evitar a seleção ou introdução dos biótipos resistentes, ao invés de curativa, depois que o problema já foi instalado. Trata-se de manejo, quem é adepto do manejo integrado de plantas daninhas, não terá o problema de resistência na sua propriedade ou demorará mais tempo para tê-lo.
O manejo integrado preconize as boas práticas agrícolas, tendo como estratégia principal de manejo a cultura e não o controle químico.
Práticas com foco no crescimento e no desenvolvimento adequados da cultura e na redução do banco de sementes e propágulos de plantas daninhas do solo, são primordiais para o manejo da resistência.
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Referências
CHRISTOFFOLETI, P. J.; VICTORIA FILHO, R.; SILVA, C. B. Resistência de plantas daninhas aos herbicidas. Planta Daninha, v. 12, n. 1, p. 13-20, 1994.
CHRISTOFFOLETI, P.J. (Coord.). Aspectos de resistência de plantas daninhas a herbicidas. 3.ed. Piracicaba: Associação Brasileira de Ação a Resistência de Plantas Daninhas aos Herbicidas (HRAC-BR), 120 p, 2008
GAINES, T. A.; DUKE, S. O.; MORRAN, S.; TRANEL, P. J.; KÜPPER, A.; DAYAN, F. E. Mechanisms of evolved herbicide resistance. Journal of Biological Chemistry, v. 295, n. 30, p. 10307-10330, 2020.
HEAP, I. The international herbicide resistant weed database. Online. https://www.weedscience.org/Home.aspx
TAKANO, H. K.; OVEJERO, R. F. L.; BELCHIOR, G. G.; MAYMONE, G. P. L.; DAYAN, F. E. ACCase-inhibiting herbicides: mechanism of action, resistance evolution and stewardship. Scientia Agricola, v. 78, n. 1, 2021.