Plantas daninhas: Conceitos, classificação e métodos de controle
- 12/08/2024
Os termos, plantas invasoras, plantas daninhas e ervas daninhas, têm sido empregados indistintamente na literatura brasileira. Essas plantas são também designadas como plantas ruderais, plantas silvestres, mato ou inço. Entretanto, todos estes conceitos baseiam-se na sua indesejabilidade em relação a uma atitude humana. Um conceito amplo de planta daninha a enquadra como toda e qualquer planta que ocorre onde não é desejada
As plantas daninhas habitam espontaneamente áreas de cultivo sem produção de alimentos ou fibras. Seu alto grau de interferência no desenvolvimento das plantas vizinhas e a concorrência por recursos naturais (água, luz e nutrientes do solo) fazem das plantas daninhas a grande vilã das lavouras.
Os ambientes ideais para o desenvolvimento das principais culturas agrícolas são também propícios para as plantas daninhas, que se adaptam facilmente aos ambientes que apresentam estresse hídrico, alta umidade, temperatura e fertilidade desfavoráveis, elevada salinidade e excessiva acidez ou alcalinidade.
A alta resistência às adversidades externas é o principal fator para a propagação dessas plantas, que causam: redução da produção agrícola; manifestação de alergia e intoxicação do homem e de animais; infestação de áreas não agrícolas; infestação de canais de irrigação e danos a implementos agrícolas.
Classificação das plantas daninhas
A classificação das plantas daninhas é fundamental para compreender suas características e escolher as melhores estratégias de manejo. Elas podem ser classificadas com base em diferentes critérios, como ciclo de vida, forma de crescimento e métodos de dispersão.
1. Classificação por ciclo de vida
- Anuais:
- Completam seu ciclo de vida (germinação, crescimento, floração e produção de sementes) em um ano ou menos.
- Exemplos: Capim-colchão (Digitaria horizontalis), buva (Conyza spp.).
- Bienais:
- Têm um ciclo de vida de dois anos. No primeiro ano, geralmente formam uma roseta de folhas; no segundo ano, florescem e produzem sementes.
- Exemplos: Cardo-estrela (Centaurea calcitrapa), bardana (Arctium minus).
- Perenes:
- Sobrevivem por mais de dois anos, podendo viver por várias estações de crescimento. Muitas vezes se reproduzem por sementes e por estruturas vegetativas, como rizomas, estolões e tubérculos.
- Exemplos: Tiririca (Cyperus rotundus), grama-seda (Cynodon dactylon).
2. Classificação por forma de crescimento
- Herbáceas:
- Plantas de caule macio que não formam madeira. Podem ser anuais, bienais ou perenes.
- Exemplos: Dente-de-leão (Taraxacum officinale), picão-preto (Bidens pilosa).
- Arbustivas:
- Plantas lenhosas de pequeno porte, com caules que permanecem acima do solo durante o inverno.
- Exemplos: Amora-silvestre (Rubus fruticosus), marmeleiro-do-brejo (Mouriri pusa).
- Arbóreas:
- Plantas lenhosas de grande porte, que podem competir diretamente com culturas arbóreas ou invadir áreas de preservação.
- Exemplos: Leucena (Leucaena leucocephala), algaroba (Prosopis juliflora).
3. Classificação por método de dispersão
- Anemocóricas (dispersão pelo vento):
- Sementes leves ou com estruturas que permitem serem carregadas pelo vento.
- Exemplos: Buva (Conyza spp.), dente-de-leão (Taraxacum officinale).
- Zoocóricas (dispersão por animais):
- Sementes que se aderem ao pelo dos animais ou que são ingeridas e depois excretadas.
- Exemplos: Carrapicho (Cenchrus echinatus), picão-preto (Bidens pilosa).
- Hidrocóricas (dispersão pela água):
- Sementes ou frutos que flutuam e são dispersos pela água.
- Exemplos: Pião-roxo (Jatropha gossypiifolia), aguapé (Eichhornia crassipes).
Efeitos das plantas daninhas
As plantas daninhas têm uma série de efeitos adversos, tanto no contexto agrícola quanto ecológico e econômico.
1. Competição por recursos
- Água:
- As plantas daninhas competem diretamente com as culturas por água, especialmente em regiões com deficiência hídrica, podendo reduzir a disponibilidade de água para as plantas cultivadas.
- Nutrientes:
- Elas absorvem nutrientes do solo, diminuindo a quantidade disponível para as culturas, o que pode levar à redução da produtividade e à necessidade de suplementação com fertilizantes.
- Luz:
- Ao crescerem rapidamente e cobrirem a superfície do solo, as plantas daninhas podem sombrear as culturas, reduzindo a eficiência da fotossíntese e, consequentemente, o crescimento das plantas desejadas.
2. Efeitos alelopáticos
- Algumas plantas daninhas produzem substâncias químicas (aleloquímicos) que são liberadas no solo e podem inibir o crescimento de outras plantas, incluindo as culturas desejadas. Esses efeitos alelopáticos podem impactar negativamente o desenvolvimento das culturas, dificultando o estabelecimento das mesmas.
3. Hospedeiras de pragas e doenças
- Muitas plantas daninhas atuam como hospedeiras alternativas para pragas e doenças, permitindo que esses organismos sobrevivam e se multipliquem, mesmo na ausência da cultura hospedeira. Isso aumenta a pressão de pragas e doenças sobre as culturas, tornando o manejo fitossanitário mais complexo e caro.
4. Impacto econômico
- Perda de produtividade:
- A presença de plantas daninhas pode causar reduções significativas na produtividade das culturas. Em alguns casos, as perdas podem chegar a 50% ou mais, dependendo da densidade de infestação e da competitividade das plantas daninhas.
- Custos de controle:
- O manejo de plantas daninhas exige a aplicação de herbicidas, mão de obra para capinas manuais ou o uso de máquinas, tudo isso gerando custos adicionais. Em alguns casos, o controle inadequado pode levar à necessidade de replantio, aumentando ainda mais os custos.
- Redução da qualidade:
- Algumas plantas daninhas podem contaminar a colheita, reduzindo sua qualidade e valor comercial. Além disso, a presença de sementes de plantas daninhas em produtos colhidos pode exigir a limpeza e triagem adicional, aumentando os custos pós-colheita.
Métodos de controle
As ferramentas de controle de plantas daninhas são didaticamente divididas em manejo preventivo, controle cultural, mecânico, físico, biológico e químico. A escolha do método de controle deverá levar em consideração o tipo de exploração agrícola, as espécies daninhas presentes na área, o relevo, a disponibilidade de mão de obra e equipamentos locais, além de aspectos ambientais e econômicos. O agricultor deve, sempre que possível, integrar os métodos de controle, pois a diversificação das estratégias de manejo da comunidade infestante implica maior eficiência e economia no seu controle.
Controle mecânico
Pode ser realizado manualmente, com a utilização de tração animal, ou através de tratores para o preparo do solo. Essa prática requer muito cuidado na escolha do implemento a ser utilizado, o qual deverá ser adequado ao tipo de cultivo e às plantas daninhas que deverão ser retiradas. A enxada é uma boa opção para o controle de plantas daninhas após o plantio da cultura, sendo utilizada, principalmente, em pequenas áreas. Durante o uso da ferramenta, deve-se ficar atento à profundidade da capina, que deve ser superficial para não atingir as raízes das plantas.
Controle químico
O controle químico é realizado com o uso de herbicidas que, aplicados em doses corretas, matam ou retardam o crescimento das plantas daninhas. As vantagens do controle químico são a economia de mão-de-obra e a rapidez da aplicação dos herbicidas.
As formas mais importantes de controle das plantas daninhas são: preparo adequado do solo antes do plantio; utilização de variedades adaptadas às condições locais; correta densidade de plantio para evitar a formação de um ambiente propício às plantas invasoras e rotação de culturas para dificultar a seleção de espécies.
Manejo integrado de plantas daninhas
O manejo integrado de plantas daninhas (MIPD) é um conjunto de procedimentos adotados para controlar as plantas invasoras. Bastante eficaz, o MIPD deve ser realizado antecipadamente, unindo os métodos de controle mecânico, químico e cultural. Especialistas defendem que a associação de, no mínimo, dois métodos garante o controle das plantas daninhas e diminui a agressão ao meio ambiente.
Os cuidados abaixo podem ser associados ao uso de herbicidas no controle de plantas daninhas: antes da aplicação de herbicidas, o solo não deve conter torrões; o solo deve ser preparado após a primeira chuva. Recomenda-se aplicar, em seguida, herbicidas pré-emergentes com maior espectro de ação; o período residual do produto deve ser considerado.
Elaboramos um podcast para entender mais sobre o tema, que será conduzido pela Daniela Lorenzon. E aí, bora ouvir?