Fungicidas: classificação e mecanismo de ação
- 07/08/2024
Os fungicidas são ferramentas essenciais no manejo de doenças fúngicas em culturas agrícolas, desempenhando um papel crucial na proteção de plantas e na garantia de produtividade. Essas substâncias químicas, aplicadas de forma criteriosa, são capazes de inibir ou eliminar a ação de fungos patogênicos, responsáveis por grandes perdas na agricultura mundial.
No entanto, a escolha e a aplicação de fungicidas exigem um profundo conhecimento técnico, uma vez que diferentes produtos possuem modos de ação, espectros de atividade e características químicas distintas. A classificação de fungicidas, portanto, torna-se um ponto de partida fundamental para o manejo eficaz e sustentável das doenças fúngicas.
Classificação de fungicidas
A classificação dos fungicidas é geralmente baseada na natureza química e no modo de ação do produto contra o fitopatógeno: são protetores ou de contato, erradicantes e sistêmicos (Zambolim et ai., 1995; Kimati, 1995).
Fungicidas protetores ou de contato
São efetivos somente se aplicados antes da ocorrência da penetração do patógeno no hospedeiro, impedindo ou reduzindo as chances de ocorrência da doença. Quando são aplicados à superfície dos órgãos vegetais, agem como uma barreira tóxica, prevenindo a penetração de fungos pela inibição da germinação dos esporos e do tubo germinativo.
Fungicidas de ação erradicante
Atuam diretamente sobre o patógeno, eliminando-o da superfície de partes da planta ou do solo. Podem ser protetores e ter ação erradicante.
Fungicidas sistêmicos
São aqueles em que o princípio ativo é absorvido pela planta e translocado para partes distantes do local de aplicação e com capacidade de inibir a infecção do patógeno. Os fungicidas sistêmicos apresentam efeito erradicante e supressor da infecção, isto é, atuam suprimindo o estabelecimento da infecção causada por patógenos nos tecidos do hospedeiro
Características essenciais aos fungicidas sistêmicos
As características dos sistêmicos com propriedades fungicidas ou fungistáticas são: penetração, movimento dentro da planta, toxicidade seletiva e estabilidade metabólica (Zambolim et al., 1997).
1.Fungicidas de amplo espectro
- Definição: São aqueles que atuam contra diversas espécies de fungos, oferecendo proteção contra múltiplos patógenos simultaneamente.
- Vantagens:
- Flexibilidade: Podem ser usados em situações onde múltiplos patógenos estão presentes ou em condições onde não há identificação precisa do fungo causador.
- Eficiência de manejo: Reduzem a necessidade de aplicações múltiplas com diferentes produtos.
- Desvantagens:
- Resistência: O uso frequente e indiscriminado pode levar ao desenvolvimento de resistência em uma gama maior de fungos.
- Impacto ambiental: Podem afetar organismos não-alvo, incluindo fungos benéficos.
2. Fungicidas de espectro restrito
- Definição: São formulados para serem eficazes contra um número limitado de fungos ou mesmo um patógeno específico.
- Vantagens:
- Precisão: Permitem o controle direcionado de patógenos específicos, minimizando o impacto sobre organismos não-alvo.
- Redução de resistência: Menor probabilidade de desenvolvimento de resistência em outros fungos.
- Desvantagens:
- Necessidade de diagnóstico preciso: Requerem identificação acurada do patógeno antes da aplicação.
- Limitação: Não são eficazes contra outros patógenos que possam surgir simultaneamente.
Classificação dos fungicidas quanto ao mecanismo de ação
Os fungicidas são classificados com base nos mecanismos de ação, que determinam como eles interferem nos processos vitais dos fungos. Segundo a classificação da Fungicide Resistance Action Committee (FRAC), os principais grupos são:
- Grupo A: Síntese de ácidos nucléicos
Atua inibindo a síntese de DNA e RNA.
Exemplo: Metalaxyl (acylalanina), usado em tratamentos sistêmicos. - Grupo B: Divisão celular e mitose
Interfere na divisão celular, impedindo a multiplicação do fungo.
Exemplos: Benomyl, Carbendazim (Benzimidazois e Tiofanatos). - Grupo C: Respiração
Afeta a respiração mitocondrial, reduzindo o ATP disponível.
Exemplos: Carboxamidas, Estrobilurinas. - Grupo D: Síntese de aminoácidos
Inibe a formação de aminoácidos necessários para as proteínas.
Exemplos: Cyprodinil, Kasugamycina. - Grupo E: Transdução de sinais
Interrompe processos de sinalização celular.
Exemplos: Iprodione, Procymidone (Dicarboxamides). - Grupo F: Síntese de lipídeos e membranas
Inibe a produção de lipídeos, desorganizando a célula.
Exemplo: Edifenfós. - Grupo G: Síntese de esteróis em membranas
Bloqueia a produção de esteróis essenciais.
Exemplos: Triazois, Imidazois. - Grupo H: Biossíntese da parede celular
Inibe a síntese de componentes da parede celular.
Exemplo: Dimetomorfe. - Grupo I: Síntese de melanina na parede celular
Previne a formação de melanina, crucial para a infecção do hospedeiro.
Exemplo: Tricyclazol. - Grupo P: Defesas vegetais
Induz a resistência sistêmica adquirida (SAR) na planta, sem afetar diretamente os fungos.
Os fungicidas podem ser classificados em dois tipos principais com base no modo como atuam nos fungos: fungicidas multisítios e fungicidas de sítio específico. A escolha entre eles tem implicações importantes para o manejo de doenças e para a gestão da resistência dos fungos aos tratamentos.
Fungicidas multisítios
- Definição: Esses fungicidas afetam múltiplos processos metabólicos ou estruturas celulares no fungo.
- Mecanismo de ação: Atuam em vários alvos ou sítios dentro do organismo fúngico, tornando mais difícil para o fungo desenvolver resistência, já que precisaria acumular múltiplas mutações genéticas.
- Vantagens:
- Menor risco de resistência: Devido à ação em múltiplos sítios, a probabilidade de surgimento de resistência é reduzida.
- Eficácia ampla: Podem controlar uma ampla gama de fungos e são frequentemente utilizados como fungicidas de proteção.
Fungicidas de sítio específico
- Definição: Estes fungicidas têm como alvo um único sítio ou processo metabólico específico no fungo.
- Mecanismo de ação: Afetam um único ponto crítico na bioquímica ou fisiologia do fungo, como uma enzima ou um passo específico em um caminho metabólico.
- Vantagens:
- Eficácia direcionada: Por serem altamente específicos, são muito eficazes contra certos patógenos.
- Desvantagens:
- Maior risco de resistência: O uso repetido pode levar ao desenvolvimento de resistência, uma vez que o fungo precisa de apenas uma mutação para se adaptar.
Conclusão
A compreensão dos diversos aspectos relacionados à classificação dos fungicidas é essencial para o manejo eficaz e sustentável das doenças fúngicas nas culturas agrícolas.
Ao explorar os mecanismos de ação, o espectro de ação e as diferenças entre fungicidas multisítios e de sítio específico, os agrônomos estão melhor equipados para selecionar produtos que não apenas controlam eficazmente os patógenos, mas também minimizam o risco de desenvolvimento de resistência. aprofundado e aplicado, os profissionais da agronomia podem tomar decisões mais assertivas, garantindo assim a sustentabilidade e a produtividade no campo.