Fundamentos da Calda de Aplicação e Mistura de Produtos
- 21/08/2025
A formação correta da calda fitossanitária é um dos pilares da tecnologia de aplicação. Mais do que apenas misturar produtos, envolve compreender a interação entre formulações, adjuvantes, pH da água, sequência de mistura e dinâmica no tanque. Erros nessa etapa podem comprometer o controle de pragas e doenças, causar fitotoxidade, reduzir a eficiência dos defensivos e até provocar danos econômicos irreversíveis.
1. Por que a mistura de produtos exige técnica
Quando diferentes defensivos, adjuvantes e nutrientes foliares entram no mesmo tanque, uma série de reações físicas e químicas pode acontecer. Sem o manejo adequado, podem ocorrer:
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Incompatibilidade física: precipitação, separação de fases, formação de espuma excessiva ou entupimento de bicos.
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Interações químicas indesejadas: degradação do ingrediente ativo, cristalização ou encapsulamento de partículas.
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Perda de eficácia: alteração na absorção foliar ou redução da solubilidade.
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Fitotoxidade: lesões nas plantas devido à escolha inadequada de adjuvantes ou à ordem errada de mistura.
2. Conheça a formulação de cada produto
Saber identificar se um produto é uma solução (SL, PS), emulsão (EC, ME, CS) ou suspensão (SC, OD, WP, WG) é essencial.
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Soluções dissolvem completamente em água e tendem a interferir mais no pH da calda.
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Emulsões exigem tensoativos para estabilizar as micelas de óleo na água.
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Suspensões precisam de agitação constante e entram cedo na ordem de mistura para evitar precipitação.
3. Adjuvantes: ativadores e utilitários
Os ativadores aumentam a absorção e fixação do ingrediente ativo, enquanto os utilitários corrigem problemas de pH, dureza da água ou risco de deriva.
Quase todos os adjuvantes contêm tensoativos (aniônicos, não-iônicos ou blends), que reduzem a tensão superficial da água e facilitam a penetração na cutícula da folha. A escolha correta depende do KW do ingrediente ativo:
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KW < 1 (hidrofílico) → melhor resposta a tensoativo.
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KW > 1000 (lipofílico) → melhor resposta a óleo.
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Intermediário → melhor resposta a óleo + tensoativo.
4. pH da calda: um detalhe que muda tudo
O pH pode aumentar ou reduzir drasticamente a solubilidade de um defensivo. O exemplo clássico é o cletodim, que perde até 6.000 vezes sua capacidade de dissolução quando o pH sobe de 5 para 9.
Não existe “pH ideal” fixo por classe de produto — a resposta depende da formulação e do ingrediente ativo. A recomendação é medir e ajustar o pH da calda somente após entender o comportamento específico do produto.
5. Ordem de mistura: o B.A.BA. da calda perfeita
Uma sequência técnica evita reações indesejadas e maximiza a eficácia:
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Água (encher parcialmente o tanque).
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Sólidos dispersíveis (WG, WP) → tempo adequado de agitação.
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Suspensões (SC, OD).
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Emulsões (EC, ME, CS).
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Soluções (SL, nutrientes líquidos).
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Adjuvantes.
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Óleo (por último, se não houver SC/OD que o anteceda).
6. Limpeza de tanque: segurança para a próxima aplicação
Resíduos de herbicidas como flumioxazina, saflufenacil e cletodim podem causar danos severos em culturas sensíveis.
A limpeza efetiva requer ciclos ácido + alcalino com detergentes, volume mínimo de 20% do tanque e remoção de bicos e filtros. Nunca deixar calda parada dentro do pulverizador.
Conclusão
A formação correta da calda não é apenas uma questão de seguir rótulos, mas de entender a ciência por trás da mistura de produtos. O profissional que domina esses fundamentos reduz perdas, evita problemas de compatibilidade e entrega aplicações mais eficientes.
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