Critérios fundamentais para a análise foliar
- 20/03/2024
A análise química do solo é crucial para determinar sua fertilidade e as necessidades de correção e adubação das culturas. No entanto, o solo apresenta complexidade e está sujeito a diversas reações químicas, físico-químicas e microbiológicas que afetam a disponibilidade de nutrientes para as plantas. Combinar a análise do solo com a análise dos tecidos das plantas permite um diagnóstico mais eficaz do estado nutricional das culturas, especialmente para nutrientes como o nitrogênio e os micronutrientes, para os quais a análise do solo pode ser limitada.
A análise foliar, que examina os nutrientes nas folhas em momentos específicos do ciclo da planta, é um método valioso, uma vez que as folhas são os principais órgãos onde ocorrem os processos metabólicos e, portanto, refletem melhor o estado nutricional da planta.
O uso da análise foliar baseia-se nas premissas de que existem relações diretas, dentro de limites, entre:
- a) dose de adubo e produção;
- b) dose de adubo e teor foliar; e,
- c) teor foliar e produção.
Níveis dos nutrientes em tecido vegetal
A concentração desses nutrientes nos tecidos vegetais varia de acordo com a disponibilidade no solo e a capacidade da planta de absorvê-los.
Quando a quantidade de nutrientes em um tecido vegetal está abaixo do necessário para o funcionamento adequado das funções metabólicas, ocorre uma deficiência nutricional.
Essa deficiência pode se manifestar de diversas formas, desde sintomas visíveis, como amarelecimento das folhas, até impactos mais sutis no crescimento e na produção da planta. Essa é a chamada “zona de deficiência”.
Por outro lado, quando a quantidade de nutrientes nos tecidos vegetais está em equilíbrio com as necessidades da planta, ela se encontra na “zona de equilíbrio”. Nesse estado, a planta apresenta um crescimento saudável, boa produção e resistência a estresses ambientais.
Além disso, há a chamada “zona de consumo de luxo”, na qual a planta absorve nutrientes em excesso, muitas vezes devido a uma disponibilidade abundante no solo. Nessa situação, a planta pode apresentar crescimento exagerado, porém, esse excesso pode não ser benéfico, levando a problemas como acúmulo de sais ou interferência na absorção de outros nutrientes.
Portanto, para garantir um desenvolvimento ótimo das plantas, é essencial monitorar e manter os níveis adequados de nutrientes nos tecidos vegetais, evitando tanto a deficiência quanto o excesso, e garantindo assim uma produção saudável e sustentável.
Amostragem de tecido vegetal
A amostragem é uma etapa crítica do processo, sujeita a erros, exigindo cuidados rigorosos e adesão a padrões estabelecidos.
Os níveis de nutrientes nas plantas variam conforme a mobilidade dos elementos, com implicações na amostragem.
Por exemplo, os nutrientes móveis tendem a diminuir em folhas mais velhas devido à redistribuição, enquanto os imóveis e pouco móveis podem acumular. Portanto, a amostragem deve ser realizada em talhões homogêneos, na época apropriada e retirando folhas de posições e idades definidas.
A folha coletada geralmente é a “recém-madura”, representando o estado nutricional da população e podendo ser comparada com padrões existentes. Recomendações específicas podem incluir a coleta de toda a parte aérea ou o pecíolo de folhas específicas, dependendo da cultura.
No campo, a prática da amostragem deve obedecer, também, a outros aspectos relevantes:
- na área homogênea, coletar as amostras caminhando em zigue-zague, observando sempre a padronização relativa à época e folha adequadas;
- evitar as plantas próximas de estradas e carreadores e aquelas com sinais de ataque de pragas e, ou, doenças;
- não misturar folhas de variedades diferentes;
- no caso de culturas perenes enxertadas não misturar folhas de plantas que tenham copa ou porta-enxerto diferentes;
- não misturar folhas de idades diferentes;
- em culturas perenes não se deve colocar na amostra folhas de ramos com e sem frutos;
- não amostrar quando em semanas antecedentes, aplicaram-se adubação no solo, adubação foliar, defensivos ou após períodos intensos de chuva.
Um outro aspecto interessante de se ressaltar é que às vezes é necessário fazer a amostragem fora da época padronizada. Essa situação ocorre com frequência no campo, quando aparecem lavouras ou plantas menos desenvolvidas e, ou, com sintomas de anormalidade.
Nesse caso, não se pode usar os valores ou padrões da literatura para se interpretar os resultados. Nessa situação, recomenda-se a criação de um padrão comparativo temporário para aquela cultura e época em questão.
Em suma, a análise foliar emerge como uma ferramenta essencial no monitoramento e manejo nutricional das culturas agrícolas. Ao complementar a análise do solo, permite um diagnóstico mais preciso do estado nutricional das plantas, contribuindo para uma fertilização adequada e, consequentemente, para o aumento da produtividade e qualidade dos cultivos. A correta realização da amostragem, seguindo protocolos específicos e considerando as particularidades de cada cultura, é fundamental para garantir a confiabilidade dos resultados obtidos. Assim, ao integrar a análise foliar em práticas agrícolas, os agricultores podem otimizar o uso de nutrientes, promover um crescimento saudável das plantas e, por fim, alcançar uma produção sustentável e de alta qualidade.