Curso de Manejo de Nematoides na Agricultura
- 20/06/2025
Os nematoides fitopatogênicos representam um dos maiores desafios para a produtividade agrícola no Brasil. Esses organismos microscópicos são capazes de causar sérios danos às raízes das plantas, reduzindo sua eficiência na absorção de água e nutrientes. A cultura da soja é uma das mais afetadas, com perdas estimadas em mais de R$ 16 bilhões por ano.
Com o avanço da agricultura em áreas com baixa fertilidade, somado ao uso de sistemas de produção contínuos e monoculturais, as populações de nematoides têm se multiplicado de forma preocupante. Diante disso, o manejo biológico, integrado com práticas culturais e genéticas, surge como uma solução promissora e sustentável.
Principais Nematoides de Importância Agronômica
Diversas espécies de nematoides atacam culturas agrícolas no Brasil, com destaque para:
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Meloidogyne spp. (nematoide-das-galhas): causam galhas nas raízes, levando à redução do crescimento e sintomas de “carijó” nas folhas.
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Pratylenchus brachyurus (nematoide das lesões radiculares): forma galerias e necroses nas raízes.
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Heterodera glycines (nematoide de cisto da soja): forma cistos visíveis a olho nu e compromete severamente a produtividade.
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Rotylenchulus reniformis (nematoide reniforme): relevante em áreas de sucessão soja-algodão, causa necroses nas raízes.
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Helicotylenchus e Scutellonema spp.: emergentes, com crescimento populacional em algumas regiões.
Além das espécies isoladas, populações mistas são comuns, o que exige um manejo mais complexo e estratégico.
Estratégias de Manejo Integrado de Nematoides
O manejo integrado de nematoides (MIN) envolve quatro pilares principais: controle genético, químico, cultural e biológico. Nenhuma dessas estratégias é eficiente isoladamente — o sucesso está na integração entre elas.
1. Controle Cultural
O controle por inanição — a interrupção do fornecimento de alimento — é uma das formas mais eficazes de reduzir a população de nematoides.
Principais práticas:
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Rotação e sucessão de culturas com espécies não hospedeiras.
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Uso de plantas de cobertura, como braquiária, milheto, sorgo e crotalária, com diferentes graus de antagonismo aos nematoides.
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Eliminação de plantas daninhas e voluntárias (ex: tigueras), que atuam como hospedeiras secundárias.
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Plantio direto bem manejado, com diversidade de culturas e cobertura vegetal permanente.
A escolha das plantas deve considerar quais espécies de nematoides estão presentes na área para evitar o favorecimento de outras populações.
2. Controle Genético
O uso de cultivares resistentes ou com baixo fator de reprodução é uma ferramenta fundamental.
No entanto:
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A resistência é específica para raças ou espécies de nematoides.
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É um mecanismo pós-infeccional, ou seja, pode não evitar os danos iniciais.
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O uso contínuo da mesma cultivar pode levar à pressão de seleção e quebra de resistência.
3. Controle Químico
Os nematicidas químicos disponíveis (ex: abamectina, fluopyram, cadusafós) atuam protegendo a planta, mas possuem residual curto (15–20 dias), o que torna seu uso limitado como estratégia única.
Recomendação: devem ser utilizados em conjunto com biológicos e práticas culturais, visando proteção no estabelecimento da cultura.
Controle Biológico de Nematoides
O controle biológico tem ganhado força pela sua compatibilidade com outros métodos e pelo número crescente de produtos registrados no Brasil. Atualmente, já existem mais de 60 produtos bionematicidas aprovados no país.
Principais Agentes Biológicos:
Fungos
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Purpureocillium lilacinum (Paecilomyces)
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Pochonia chlamydosporia
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Trichoderma spp.
Mecanismos de ação:
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Parasitismo de ovos e juvenis.
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Degradação de quitina.
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Produção de metabólitos com efeito nematicida.
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Promoção do crescimento vegetal.
Bactérias
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Bacillus spp. (ex: B. subtilis, B. amyloliquefaciens, B. firmus)
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Pasteuria nishizawae (efetiva contra Heterodera)
Mecanismos de ação:
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Formação de biofilme nas raízes.
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Antibiose.
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Modificação da rizosfera, dificultando a localização da raiz pelo nematoide.
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Estímulo ao crescimento e ativação das defesas naturais da planta.
Integração Biológicos + Plantas de Cobertura
Estudos de campo mostram que o uso de plantas de cobertura associado à aplicação de biológicos:
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Reduz até 75% da população de nematoides.
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Aumenta o volume e a saúde do sistema radicular.
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Melhora a performance da cultura subsequente (como a soja).
Exemplos:
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Sistema soja-braquiária tratado com biológico mostrou redução de 30 a 40% na população de nematoides.
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Milheto + biológicos elevou a produtividade da soja subsequente.
Considerações Finais
O manejo biológico de nematoides é uma ferramenta essencial para a agricultura moderna, sustentável e produtiva. Quando integrado ao manejo cultural e genético, o uso de agentes biológicos proporciona controle eficiente, redução da pressão de seleção e aumento da longevidade do sistema produtivo.
Entender o comportamento das diferentes espécies, fazer diagnóstico adequado e planejar o sistema de manejo com base em dados técnicos é o caminho para resultados consistentes no campo.
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