Consórcio milho-brachiaria: benefícios, implantação e modalidades.
- 24/04/2024
O consórcio milho-braquiária é uma prática agrícola que combina o cultivo de milho com a semeadura simultânea ou subsequente da braquiária, uma gramínea forrageira de grande importância para a pecuária. Essa técnica é amplamente adotada em sistemas de produção agrícola, especialmente em regiões tropicais e subtropicais, devido aos seus benefícios agronômicos, econômicos e ambientais.
O consórcio milho-brachiaria, também conhecido como ILP (Integração Lavoura Pecuária), sistema Santa Fé ou Barreirão, vem crescendo a cada dia.
Isso porque é grande o leque de benefícios que esse sistema, proporcionando o aproveitamento durante o ano todo das terras cultivadas.
Ao consorciar o milho com a braquiária, os agricultores podem aproveitar os benefícios de ambas as culturas. Durante o período inicial de desenvolvimento do milho, a braquiária atua como uma cobertura do solo, reduzindo a incidência de erosão e evitando a competição com as plantas invasoras. Posteriormente, após a colheita do milho, a braquiária continua a crescer, proporcionando cobertura do solo, proteção contra a erosão e oferecendo um valioso recurso forrageiro para a pecuária.
Objetivos do consórcio
O consórcio entre milho e forrageira visa alcançar dois objetivos principais: a produção de palha para cobertura do solo e a obtenção de forragem para alimentação animal. A distinção entre esses objetivos reside principalmente na densidade e na distribuição das plantas: densidades maiores são empregadas na formação de pastagens, enquanto densidades menores são utilizadas na produção de palha.
Em casos onde há uma alta densidade de plantas, é essencial aplicar um herbicida para suprimir inicialmente o crescimento da forrageira, a fim de evitar perdas na produtividade do milho. (CECCON et al., 2010, KLUTHCOUSI et al., 2000).
Benefícios dessa prática
Redução da erosão do solo: A braquiária atua como uma cobertura viva do solo, reduzindo significativamente a erosão causada pelo vento e pela água. Suas raízes densas e profundas ajudam a estabilizar o solo, protegendo-o da perda de nutrientes e da degradação.
Supressão de plantas invasoras: A cobertura proporcionada pela braquiária inibe o crescimento de plantas invasoras, reduzindo a competição por nutrientes, água e luz solar, o que diminui a necessidade de uso de herbicidas.
Melhoria da estrutura do solo: As raízes da braquiária penetram profundamente no solo, ajudando a melhorar sua estrutura, aumentando a porosidade e aeração, facilitando a infiltração de água e reduzindo o risco de compactação.
Aumento da matéria orgânica do solo: A braquiária contribui para o acúmulo de matéria orgânica no solo, promovendo sua fertilidade e aumentando sua capacidade de retenção de água e nutrientes.
Ciclagem de nutrientes: As raízes da braquiária têm a capacidade de absorver nutrientes do solo profundo, trazendo-os para a superfície através de processos de decomposição e ciclagem, tornando esses nutrientes disponíveis para as culturas subsequentes, como o milho.
Fornecimento de forragem: Após a colheita do milho, a braquiária continua a crescer e pode ser utilizada como uma valiosa fonte de forragem para a alimentação animal, reduzindo os custos com alimentação e suplementação.
Redução dos custos de produção: O consórcio milho-braquiária pode resultar em economia de custos com insumos agrícolas, como herbicidas e fertilizantes, além de reduzir a necessidade de preparo do solo e de manejo de plantas invasoras.
Melhoria da resiliência do sistema de produção: Ao promover a saúde do solo, aumentar a sua fertilidade e reduzir a dependência de insumos externos, o consórcio milho-braquiária torna o sistema de produção agrícola mais resiliente a condições climáticas adversas e variações de mercado.
O consórcio milho-braquiária tem sido avaliado no outono-inverno utilizando a B. ruziziensis, com o objetivo de produzir grãos de milho e de soja em Sistema Plantio Direto, mantendo o solo permanentemente coberto (BATISTA et al., 2011; CECCON et al. 2005)
Este sistema proporciona efeitos positivos tanto para a soja quanto para o milho safrinha, cultivados em sucessão
Identificação das espécies e cultivares
Quase todas as forrageiras perenes têm potencial para serem consorciadas com milho, porém, a escolha da espécie depende do propósito específico, seja para cobertura do solo ou para a formação de pastagens, anuais ou perenes. É crucial, portanto, identificar a espécie forrageira desde as fases iniciais de crescimento, de modo a distingui-la entre as plantas daninhas e outras espécies de pastagens.
Essa identificação precoce possibilita ajustes necessários no manejo do consórcio durante seu estabelecimento e posteriormente, durante o uso ou a dessecação da forrageira.
Momento de Implantação
A semeadura da braquiária pode ocorrer antes, durante ou após a semeadura do milho. Se feita antecipadamente e sem a supressão com herbicidas, a forrageira pode provocar quedas significativas na produtividade do milho.
Para minimizar os custos com operações de semeadura, recomenda-se implantar milho e braquiária simultaneamente. No entanto, a semeadura da braquiária após a do milho, com um intervalo de até 14 dias, é uma alternativa viável para reduzir a competição da forrageira com o milho. (CECCON et al., 2009; JAKELAITIS et al., 2006)
Modalidade do consórcio
Modalidades de Consórcio A escolha e seleção das modalidades de consórcio podem ser variadas, dependendo do ponto de partida para sua identificação, bem como seu objetivo, momento e método de implantação, e posição das sementes de braquiária em relação às linhas do milho
Modalidade da linha intercalar de milho e braquiária
O consórcio com linhas de braquiária intercaladas às linhas do milho foi desenvolvido para espaçamento de 0,75 m a 0,9 m entre linhas de milho, exclusivamente tendo em vista a produção de palha para cobertura do solo (CECCON et al., 2005).
A implantação consiste em intercalar uma linha da forrageira com uma linha do milho. Para isso, mantém-se o milho na sua linha, enquanto que na linha intercalar coloca-se um disco e a quantidade de sementes de braquiária, que proporcione a população de plantas desejada.
Modalidade de linhas duplas de milho intercaladas com uma de braquiária
O cultivo de duas linhas de milho ao lado de uma linha de braquiária. Nesta modalidade, quando as linhas da semeadora estão reguladas de 45 cm ou 50 cm entre si, o milho tem espaçamento útil de 67,5 cm ou 75 cm entre linhas, respectivamente
Modalidade em linhas
O consórcio entre milho e braquiária, plantados na mesma fileira, pode ser recomendado para cultivos de milho em espaçamentos mais estreitos, tanto para a produção de palha quanto para a obtenção de forragem. Nesse arranjo, uma caixa exclusiva para as sementes de braquiária (uma caixa adicional ou terceira caixa) é utilizada; a saída das sementes deve ser posicionada junto com as sementes de milho, podendo ser na mesma profundidade, garantindo assim o estabelecimento de ambas as espécies. (BORGHI; CRUSCIOL, 2007).
Considerações finais
O consórcio de milho com braquiária é uma prática agrícola que pode ser usada em diferentes sistemas de produção para minimizar os problemas relacionados ao solo, através da sua cobertura com plantas; melhorar sua capacidade produtiva e, também, para o estabelecimento de pastagens.
A escolha entre as várias modalidades deste tipo de consórcio vai depender do objetivo que se pretende, da disponibilidade de máquinas para semeadura, do investimento em sementes e da época de implantação do consórcio.
Quando se objetiva a produção de palha, menores quantidades de sementes devem ser utilizadas; porém, quando o objetivo é a formação de pastagens, as quantidades devem ser maiores.
Referência
BATISTA, K.; DUARTE, A. P.; CECCON, G.; DE MARIA, I. C.; CANTARELLA, H. Acúmulo de matéria seca e de nutrientes em forrageiras consorciadas com milho safrinha em função da adubação nitrogenada. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 46, n. 10, p. 1154-1160, out. 2011.
BORGHI, E.; CRUSCIOL, C. A. C. Produtividade de milho, espaçamento e modalidade de consorciação com Brachiaria brizantha no Sistema Plantio Direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 42, n. 2, p. 163-171, fev. 2007.
CECCON, G.; KURIHARA, C. H.; STAUT, L. A. Manejo de Brachiaria ruziziensis em consórcio com milho safrinha e rendimento de soja em sucessão. Revista Plantio Direto, Passo Fundo, ano 19, n. 113, p. 4-8, set./out. 2009
CRUSCIOL, C. A. C.; SORATTO, R. P.; BORGHI, E.; MATEUS, G. P. Integração lavoura-pecuária: benefício das gramíneas perenes nos sistemas de produção. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 125, p. 2-15, mar. 2009.
JAKELAITIS, A.; SILVA, A. F. da; PEREIRA, J. L.; SILVA, A. A. da; FERREIRA, L. R.; VIVIAN, R. Efeitos de densidade e época de emergência de Brachiaria brizantha em competição com plantas de milho. Acta Scientiarum: agronomy, Maringá, v. 28, n. 3, p. 373-378, July/Sept. 2006.