Manejo de nematoides na cultura do algodão
- 18/12/2023
Os principais nematoides que danificam o algodoeiro no Brasil são o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita), o nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis) e o nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus).
Dentre eles, o nematoide-das-galhas (Meloidogyne incognita) se destaca como o mais destrutivo, apresentando alta agressividade para a cultura e merecendo grande atenção em sua presença na área. O nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis) persiste com eficiência, sobrevivendo bem no campo. O nematoide-das-lesões-radiculares (Pratylenchus brachyurus), frequente no Estado de Mato Grosso, se distribui por todas as regiões de cultivo, e suas opções de manejo são difíceis. Além dessas espécies, pesquisadores confirmaram recentemente o nematoide Aphelenchoides besseyi parasitando o algodoeiro em regiões específicas de Mato Grosso.
Sintomas visuais
Os sinais da presença do nematoide-das-galhas aparecem em aglomerados, caracterizando-se pela formação de galhas no sistema radicular. Essa condição reduz a área foliar, causa deficiências minerais e leva ao emurchecimento temporário da planta durante os períodos mais quentes do dia. Nas folhas, alterações na coloração variam de tonalidades amarelas a vermelho intenso. Em situações mais severas, esses sintomas podem evoluir para um enrolamento generalizado das folhas, acompanhado por intensa perda de folhagem.
Um sinal distintivo da infestação por Meloidogyne incognita é o surgimento de manchas amarelas dispersas pelo limbo foliar, contrastando com a coloração verde normal ligeiramente clara. Com o tempo, essas áreas amareladas se transformam em uma tonalidade castanha e, eventualmente, apresentam necrose. Entre os cotonicultores, conhecem esse fenômeno como “carijó” do algodoeiro.
Quanto ao nematoide-reniforme (Rotylenchulus reniformis), os sintomas se caracterizam por aglomerados maiores, menos nítidos que os causados por M. incognita, e resultam na diminuição do porte das plantas. As folhas afetadas pelo fenômeno “carijó” aparecem apenas em algumas cultivares altamente suscetíveis ou em situações de altas concentrações do nematoide.
As raízes não mostram alterações visuais marcantes, apresentando redução no volume e mantendo uma aparência suja mesmo após lavagem em água corrente. Isso ocorre devido à aderência de partículas de argila às massas de ovos do nematoide, de tamanho diminuto.
Os sintomas provocados por Pratylenchus brachyurus surgem sob alta infestação e caracterizam-se pelo escurecimento de longos trechos das raízes e pela diminuição do porte das plantas.
Fatores que afetam a população
Vários fatores influenciam a dinâmica populacional de nematoides no campo, incluindo:
- Planta hospedeira: A resistência genética desempenha um papel fundamental na multiplicação dos nematoides. Genótipos resistentes impactam diretamente na dinâmica populacional no campo.
- Fatores climáticos:
- Temperatura: Influencia diretamente a atividade e o ciclo de vida dos nematoides. Extremos de temperatura limitam a multiplicação.
- Umidade: É essencial para a mobilidade e atividade dos nematoides, mas o excesso pode prejudicar a sobrevivência. Estresses hídricos podem acentuar danos.
- Textura e fatores edáficos do solo: M. incognita prefere solos arenosos, enquanto R. reniformis é mais comum em solos argilosos.
- Fatores biológicos: A competição entre espécies, notavelmente entre M. incognita e R. reniformis, pode interferir na população de uma espécie, destacando-se a segunda.
- Práticas agrícolas: A rotação de culturas, o uso de nematicidas, a data de plantio, o controle de plantas daninhas e o preparo do solo são estratégias que impactam a dinâmica populacional de nematoides.
Métodos de controle
A medida mais eficiente consiste em evitar a introdução de nematoides-chave para a cultura em áreas isentas. Os nematoides têm capacidade própria de dispersão muito limitada, necessitando de outros meios para disseminação. Teoricamente, tudo que move o solo também pode dispersar os nematoides, como água da chuva, vento, insetos e, principalmente, o homem, que pode carregar os nematoides no próprio corpo ou em implementos agrícolas.
Em regiões infestadas, as principais abordagens para controlar nematoides incluem métodos cultural, genético, químico e biológico.
- Método cultural: A rotação de culturas com espécies não hospedeiras é uma técnica de manejo eficaz. Essa estratégia limita a alimentação do nematoide presente na área, dificultando sua sobrevivência. Associar esse período de escassez alimentar com a ação de microrganismos presentes no solo tende a diminuir a população de nematoides na região. O uso de plantas não hospedeiras em sucessão com a cultura principal na mesma safra agrícola, como milho, milheto, braquiária e sorgo, ajuda no controle do nematoide-reniforme.
- Controle genético: Utiliza genótipos de algodoeiro resistentes ou tolerantes aos nematoides.
- Controle químico: Envolve o uso de nematicidas químicos no tratamento de sementes e no sulco de plantio do algodoeiro. Essa técnica protege as raízes por cerca de 30 a 60 dias após o plantio. O tratamento de sementes com nematicidas como abamectina e tiodicarbe é comum no Estado, assim como a aplicação de nematicidas no sulco de plantio, como cadusafos e fluensulfone.
- Controle biológico: Ganha destaque no manejo de nematoides na cultura do algodoeiro. Inclui produtos para tratamento de sementes, aplicação no sulco de plantio ou pulverização em área total. Agentes de controle como diferentes espécies de Bacillus, a bactéria Pasteuria penetrans (contra M. incognita) e fungos como Purpureocillium lilacinum, Pochonia chlamydosporia e Trichoderma sp. têm sido testados. Os nematicidas biológicos, sendo organismos vivos, requerem cuidados especiais para serem eficazes, sendo mais eficientes em áreas com boa cobertura vegetal durante o plantio do algodoeiro.