Manejo da cultura do algodão: entenda como garantir uma produção de qualidade
- 11/12/2023
A cultura do algodão desempenha um papel fundamental na indústria têxtil global, sendo uma das culturas mais importantes e amplamente cultivadas em todo o mundo. No entanto, para garantir uma produção eficiente e de alta qualidade, é crucial implementar práticas de manejo adequadas em todas as fases do ciclo de cultivo.
Este artigo abordará os principais aspectos do manejo na cultura do algodão, com ênfase no controle de plantas daninhas, pragas e doenças, além de cuidados específicos em cada fase do cultivo.
Antes de falar sobre o manejo da cultura, é necessário compreender as fases fenológicas e o que ocorre em cada uma delas. Vamos lá?
Fenologia do algodoeiro
Marur e Ruano, em 2001, desenvolveram a “Escala do Algodão”, ou seja, um sistema de identificação de estágios de desenvolvimento do algodoeiro. O ciclo do algodoeiro se divide em quatro fases: a vegetativa (V), formação de botões florais (B), abertura de flores (F) e abertura de capulhos (C).
Fase vegetativa:
- V0: da emergência da plântula até a nervura principal da primeira folha verdadeira alcançar 2,5 cm de comprimento;
- V1: do fim de V0 até a segunda folha atingir 2,5 cm de comprimento;
- V2: do fim de V1 até a nervura central da terceira folha alcançar 2,5 cm;
- V3–Vn: segue o mesmo critério.
Fase de formação de botões florais:
- B1: inicia-se quando o primeiro botão floral fica visível;
- B2: primeiro botão floral do segundo ramo frutífero visível;
- B3: primeiro botão floral do terceiro ramo frutífero visível. Neste momento, o segundo botão do primeiro ramo também se torna visível;
- B4-Bn: segue o mesmo critério.
Florescimento:
- F1: primeiro botão floral do primeiro ramo se transforma em flor;
- F2: primeiro botão floral do segundo ramo se transforma em flor;
- F3-Fn: mesmo critério.
Abertura de capulhos:
- C1: a primeira maçã do primeiro ramo se abre, transformando-se em capulho;
- C2: a primeira maçã do segundo ramo se abre, transformando-se em capulho;
- C3-Cn: mesmo critério.
Recomendações para as diferentes fases de crescimento do algodoeiro:
Semeadura e emergência:
O bom estabelecimento da cultura é fundamental para o sucesso da lavoura. Nesta fase, o objetivo é estabelecer um estande adequado no menor tempo possível.
Da emergência ao primeiro botão floral: fase vegetativa:
Nesta fase, deve-se estabelecer um bom sistema radicular e plantas vigorosas. O crescimento da parte aérea é relativamente lento, mas há um vigoroso crescimento do sistema radicular. Dependendo da temperatura, essa fase pode durar de 27 a 38 dias.
Cuidados: semeadura na época correta, uniformidade na profundidade de semeadura, bom programa de correção e fertilização do solo e ausência de camadas compactadas.
Do primeiro botão à primeira flor: fase de botões florais:
Nesta fase, o objetivo é obter uma planta com o maior número de nós possível, proporcionando espaço na planta para o crescimento e a produção.
A duração dessa fase também é regulada pela temperatura, geralmente de 22 a 27 dias no Brasil.
Cuidados: os mesmos mencionados anteriormente, além de um bom acompanhamento do crescimento e um controle eficiente de pragas iniciais.
Da primeira flor ao primeiro capulho: fase de florescimento:
O objetivo nesta fase é a fixação do maior número possível de maçãs. No Brasil, espera-se que essa fase dure de 58 a 67 dias.
Cuidados: controle rigoroso de pragas e doenças, acompanhamento da queda de estruturas reprodutivas e controle do crescimento da planta em altura.
Do primeiro capulho à colheita:
O objetivo nesta fase é consolidar a produção, preparar uma colheita rápida e limpa. Para temperaturas médias de 30°C, 26°C e 23°C, o tempo para obter maçãs maduras será, respectivamente, de 40, 50 e 60 dias.
Cuidados: acompanhamento da maturação das maçãs, controle de pragas tardias, aplicação de maturadores e/ou desfolhantes na época e dose adequadas.
Manejo de plantas daninhas:
O controle eficiente de plantas daninhas é essencial para obter maior rendimento e melhor qualidade da fibra, uma vez que a presença dessas plantas reduz a produtividade devido à competição por água, luz, espaço e nutrientes. Isso onera e dificulta a colheita, reduz a qualidade da fibra, mancha as plumas e aumenta suas impurezas, além de as plantas daninhas serem hospedeiras de pragas, nematoides e outros patógenos.
Algumas características da cultura tornam o controle de plantas daninhas mais desafiador, como:
- Maior espaçamento entre linhas;
- Crescimento lento da parte aérea nos primeiros estágios;
- Necessidade de manter as plantas com porte baixo;
- Baixa tolerância a alguns herbicidas importantes no controle de biótipos resistentes;
- Ciclo longo (em média, 170-200 dias);
- Necessidade de manter a lavoura limpa durante a colheita.
Portanto, é preciso manter o algodoeiro livre de plantas daninhas durante quase todo o ciclo.
Entre as plantas daninhas frequentes na maioria das áreas de cultivo do algodoeiro, que normalmente definem as estratégias de controle, podem ser citadas:
- Leiteiro (Euphorbia heterophylla);
- Picão-preto (Bidens subalternans e Bidens pilosa);
- Várias espécies de caruru (Amaranthus spp.);
- Trapoeraba (Commelina benghalensis);
- Capim-pé-de-galinha (Eleusine indica);
- Corda-de-viola (Ipomoea triloba e outras);
- Capim-colchão (Digitaria horizontalis);
- Capim-amargoso (Digitaria insularis);
- Buva (Conyza spp.);
- Capim-carrapicho (Cenchrus echinatus).
Manejo de doenças:
As doenças representam um dos principais fatores que influenciam a produção de algodão. Elas reduzem significativamente a produtividade física e econômica do algodoeiro e, em alguns casos, podem impedir a atividade.
Atualmente, reconhecem-se cerca de 250 microrganismos capazes de causar doenças no algodoeiro, sendo 90% deles fungos.
Portanto, um dos principais desafios na cultura do algodoeiro é a identificação correta dos sintomas das principais doenças e pragas que afetam a cultura. Nesse caso, técnicos (monitores de campo) rigorosamente treinados devem fazer o monitoramento da lavoura para identificar e quantificar corretamente as doenças e pragas do algodoeiro.
Entre as doenças que causam maiores prejuízos na cultura do algodão, podem-se citar:
- Tombamento (Rhizoctonia solani);
- Ramulose (Colletotrichum gossypii var. Cephalosporioides);
- Ramulária (Ramularia areola);
- Mancha angular (Xanthomonas axonopodis pv. Malvacearum);
- Mancha da alternaria (Alternaria alternata);
- Murcha de fusarium (Fusarium oxysporum f.sp. vasinfectum).
Manejo de pragas:
A planta do algodão hospeda um complexo de pragas que podem causar danos às raízes, caule, folhas, botões florais, flores, maçãs e capulhos.
Os níveis populacionais dessas pragas podem variar ao longo do ciclo da cultura, e infestações elevadas podem causar sérios prejuízos (EMBRAPA, 2001).
As pragas do algodoeiro estão presentes durante todo o ciclo da cultura e podem sobreviver mesmo na ausência dela, podendo subsistir em outras plantas hospedeiras, no solo e em restos vegetais.
Fase vegetativa:
- Lagarta-elasmo;
- Lagarta-rosca;
- Broca-da-raiz;
- Percevejo-castanho;
- Tripes;
- Pulgão;
- Cigarrinhas;
- Formigas-cortadeiras;
- Lagarta-curuquerê;
- Lagarta-falsa-medideira;
- Bicudo;
- Lagarta-da-maçã.
Florescimento e frutificação:
- Bicudo;
- Pulgão;
- Lagarta-das-maçãs;
- Lagarta Spodoptera;
- Percevejos;
- Ácaro-branco;
- Ácaro-rajado;
- Lagarta-curuquerê;
- Lagarta-falsa-medideira;
- Lagarta-rosada;
- Broca-da-haste;
- Cochonilhas.
Maturação:
- Bicudo;
- Pulgão;
- Lagarta Spodoptera;
- Lagarta-rosada;
- Lagarta-curuquerê;
- Lagarta-falsa-medideira;
- Broca-da-haste;
- Mosca-branca;
- Ácaro-rajado;
- Ácaro-branco.
O manejo eficaz na cultura do algodão é um processo contínuo abrangendo todas as fases do cultivo. Adotar práticas sustentáveis e integradas, aliadas a uma abordagem proativa no controle de plantas daninhas, pragas e doenças, é fundamental para garantir uma produção estável, sustentável e de alta qualidade na indústria do algodão. O acompanhamento constante das condições do campo, aliado à aplicação de tecnologias inovadoras, contribuirá para o sucesso a longo prazo dos agricultores de algodão.